(Imagem: Gezer)
As construções de Salomão
F. Hazor, Megido e Gezer
Os dados arqueológicos mais espetaculares, relativos ao tempo de Salomão, vêm-nos das três cidades mencionadas em 1 Reis 9:15: Hazor, Megido e Gezer. A história da descoberta arqueológica destas três cidades estende-se por um período de sessenta anos aproximadamente, a partir das primeiras escavações perto de Gezer, por volta de 1910, até às mais recentes, perto de Megido. Na primeira lição, já mencionámos as escavações feitas por R. A. S. Macalister perto de Gezer. A sua técnica era a habitual naquela época, mas o número limitado de supervisores teve como consequência que nem todas as descobertas foram registadas de modo satisfatório. No relatório final da sua campanha arqueológica, ele apenas pôde apresentar algumas provas a respeito da cidade de Salomão. Se a sua hipótese se tivesse revelado exata, isso significaria que a afirmação bíblica de 1 Reis 9:15, segundo a qual Salomão tinha mandado construir Gezer, estava errada. Quando se fizeram as escavações em Megido, nos anos trinta (ver lição 1), foram descobertos muitos elementos relativos à época de Salomão. Esta cidade possuía muralhas, que incluíam várias casamatas*. A porta da cidade, que fazia parte das muralhas, é considerada única na história da arqueologia. Geralmente, a porta era o elo fraco na fortificação de uma cidade. Para reduzir a sua vulnerabilidade, construía-se uma torre de cada lado da porta, assim como vários pequenos portões de acesso ao interior da mesma. A porta que Salomão mandou construir em Megido era ladeada por duas torres e munida de quatro portões internos (em vez dos dois ou três habituais). Tinha sido igualmente construída, de um lado e do outro de cada pequena porta interior, uma sala para os guardas. Um inimigo potencial teria, portanto, que atravessar quatro portões defendidos, cada um deles, por vários guardas.
A parte Sul dos vestígios encontrados revela um grande edifício, constituído por um grande pátio, com várias salas longas e estreitas. Tratava-se das estrebarias da cavalaria de Salomão, mencionadas em 1 Reis 9:19. Ao lado das estrebarias encontrava-se um palácio imponente que servia, provavelmente, de residência a Salomão quando este estava fora de Jerusalém. Um bom número de outros edifícios importantes, entre os quais um segundo complexo de estrebarias, a Norte da cidade, também datam do tempo de Salomão. Contrariamente às escavações realizadas perto de Gezer, as descobertas feitas em Megido confirmam fortemente o relato bíblico do reino de Salomão.
Nos anos cinquenta, foram feitas escavações em Hazor, a Norte do lago da Galileia (ver lição 6), dirigidas por Yigael Yadin. A camada que datava da época de Salomão revelou uma porta que, pelas suas dimensões, pela sua forma e pelo seu estilo, era praticamente idêntica à encontrada em Megido. Isto sugere, não só que foram construídas na mesma época, mas também que foram obra do mesmo arquiteto.
Talvez elas sejam o testemunho de um plano arquitetónico ambicioso de Salomão para as suas cidades reais Esta questão intrigante tornou-se ainda mais importante quando Yadin examinou de perto as suas descobertas. As semelhanças entre as portas de Hazor e de Megido eram demasiado evidentes para serem ignoradas. Então, interrogou-se sobre a possibilidade de, nas escavações realizadas antes em Gezer – de modo bastante negligente – se terem enganado na identificação de uma porta do tempo de Salomão. As semelhanças notáveis entre Hazor e Megido pareciam confirmar realmente o relato de 1 Reis 9:15. Nesse caso, poderia presumir-se que Gezer estava munida de uma porta semelhante…
Ao estudar os relatórios de Gezer, Yadin notou que se fazia menção de uma construção perto das muralhas, identificada por Macalister como uma fortaleza do tempo dos Macabeus, ou seja, por volta de 150 anos a.C.. Ficou impressionado por constatar que uma parte deste edifício tinha exatamente a mesma forma que metade das portas de Megido e de Hazor. Além disso, os desenhos indicavam mais ou menos as mesmas dimensões. Nesse preciso momento, uma equipa americana estava ocupada a fazer escavações em Gezer. A pedido de Yadin, essa equipa aceitou deitar mão outra vez à “fortaleza macabeia”. Foi assim que a outra metade da porta foi descoberta… e preencheu todas as expectativas. Chegou-se à conclusão de que esta porta datava, realmente, do tempo de Salomão. O relato de 1 Reis 9:15 era, portanto, exato. As três cidades, Hazor, Megido e Gezer, tinham portas que datavam da época de Salomão, idênticas quanto à forma, à dimensão e ao processo de construção. A hipótese de um plano global de construção sugerido em 1 Reis 9:15 confirmou-se.
Mas a história não acaba aqui. Em consequência das escavações feitas perto da porta de Hazor, Yadin notou que o muro de Salomão era de um estilo diferente do de Megido. Em vez de uma muralha com reforços salientes e reentrantes, descobriu uma muralha com casamatas. Este tipo de muralha consiste em dois muros paralelos, relativamente estreitos, distantes um do outro mais ou menos 3 metros. De cinco em cinco ou de oito em oito metros, os dois muros são ligados por muretes de junção, formando assim salas isoladas, que podem ser usadas como depósito ou até como habitação. Em tempo de guerra, a muralha podia ser reforçada enchendo essas divisões com escombros.
Ao analisar a semelhança entre as portas das três cidades, Yadin pensou que o mesmo deveria acontecer com as muralhas. Ter-se-iam enganado os arqueólogos em Megido? Já tinham cometido outros erros… Onde é que devia ser procurada a muralha do tempo de Salomão em Gezer? Yadin estudou de novo os relatórios sobre Gezer e descobriu uma estrutura em casamatas que, segundo os pesquisadores americanos, estava ligada à porta de Salomão. Concluiu-se daí que tanto Hazor como Gezer tinham portas com um sistema de quatro portões internos bem como muralhas em casamata, enquanto que Megido tinha um outro tipo de muro, embora a porta fosse idêntica. Yadin estava cada vez mais convencido de que os arqueólogos tinham cometido erros a respeito de Megido. Depois de terminar os seus trabalhos em Hazor, começou novas escavações em Megido. Mandou limpar o muro com os reforços salientes e reentrantes, a fim de verificar se não haveria casamatas debaixo dos escombros. As suas escavações em Hazor tinham demonstrado que, na época do rei Acab, tinha sido construído um muro maciço com reforços sobre a muralha em casamatas. Teriam feito a mesma coisa em Megido? Com efeito, quando a limpeza terminou, apareceu um muro em casamatas, idêntico aos de Hazor e de Gezer. O estudo da cerâmica encontrada no lugar confirmou a hipótese de Yadin. Esta muralha em casamatas datava da época de Salomão, enquanto que o muro maciço com reforços reentrantes e salientes tinha sido construído um século mais tarde, no reinado de Acab.
Assim terminava uma grande aventura arqueológica. A sugestão feita em 1 Reis 9:15, segundo a qual as construções de Hazor, Megido e Gezer faziam parte de um imenso plano arquitetónico do rei Salomão, foi confirmada de modo notável. As evidências são tais que nenhum arqueólogo moderno duvida ainda da exatidão deste texto bíblico. Depois das escavações feitas em 1910, tudo parecia indicar o contrário, mas os trabalhos de Yadin provocaram uma reviravolta na situação.