(Imagem: Parte do muro do Templo da antiga cidade de Jerusalém)
A construção do templo, um projeto ambicioso
O edifício mais célebre que Herodes mandou embelezar foi certamente o templo de Jerusalém. Embora Herodes não fosse verdadeiramente judeu, nem religioso, nem piedoso, percebeu que tinha todo o interesse em contentar os seus súbditos judeus. Empreendeu, portanto, um dos mais ambiciosos projetos de construção jamais vistos no império romano. Depois de restaurado, o templo era uma maravilha e uma verdadeira atração para os viajantes de todos os pontos do planeta. O historiador judeu Flávio Josefo, que viveu na segunda metade do primeiro século da nossa era, faz dele uma descrição muito pormenorizada, o que permitiu fazer uma maqueta relativamente precisa do templo.
Um dia, Jesus encontrava-se em Jerusalém, e os Seus discípulos chamaram a Sua atenção para o esplêndido edifício. Podemos ler as suas palavras no evangelho de Marcos 13:1 - “Mestre, olha, que pedras, e que edifícios!” A reação de Jesus deve ter chocado os Seus discípulos: “Veem estes grandes edifícios? Não ficará pedra sobre pedra, que não seja derribada.”
Hoje podemos fazer uma descrição pormenorizada deste edifício. Ao visitarmos o muro oeste, conhecido como ‘o muro das lamentações’, constatamos que a base é constituída por grandes pedras, com um a dois metros de comprimento e um metro de altura, cujos cantos foram cuidadosamente cinzelados. Estas pedras faziam parte da grande esplanada do templo construída durante o reinado de Herodes. Jesus falava destas pedras.
Essas grandes pedras foram descobertas há mais de um século. Escavações israelitas mais recentes, efetuadas a sul da esplanada do templo, conduziram a um certo número de descobertas que quase fizeram esquecer estas pedras gigantescas. Sob vários metros de escombros, os arqueólogos puseram a descoberto uma rua situada junto à esplanada do templo, que conduzia ao ângulo sudoeste (1).
Era também nesse lugar que terminavam outras ruas. Todos esses caminhos conduziam a uma escadaria monumental que dava acesso à parte sul do templo. Uma das escadarias, com a largura de 64 metros, conduzia a várias portas situadas no muro que circundava a esplanada. Por sua vez, essas portas davam acesso a escadas cobertas, situadas no interior dos muros, e que conduziam à parte superior da esplanada e ao templo propriamente dito.
Uma outra escada, que passava por cima de alguns arcos, conduzia a uma porta talhada no alto do muro que rodeava a esplanada do templo, a qual dava acesso à célebre sala real das colunas, que foi, provavelmente, a parte mais decorada do edifício. Situava-se ao longo da extremidade Sul da esplanada e conduzia, a Este, ao pináculo do templo. Foi aí que, segundo os evangelhos, o diabo propôs a Jesus que Se lançasse no vazio. Entre os escombros, junto ao muro, foram encontradas pedras deste edifício cuidadosamente talhadas e ornamentadas.
O ângulo Sudoeste, em que convergiam todos os caminhos que davam acesso ao templo propriamente dito, era o lugar mais animado de todo o complexo. Não é difícil imaginar Jesus e os Seus discípulos neste lugar, impressionados pelas dimensões colossais das pedras, talhadas numa pedreira e levadas em seguida, para serem colocadas no lugar certo. Não é, portanto, de estranhar que tenham dado origem ao diálogo que lemos em Marcos 13:1-37. Jesus tirou partido do espanto dos apóstolos, para introduzir um ensino sobre as coisas futuras.
A profecia de Jesus cumpriu-se no ano 70 da nossa era, quando Jerusalém caiu em consequência do cerco feito sob a direção do general romano Tito. A cidade foi completamente destruída. Para desimpedir a esplanada do templo, os arqueólogos tiveram que retirar toneladas de destroços. Enormes blocos, provenientes da sala das colunas, obstruíam a rua. Os escombros cobriam inteiramente os vestígios do edifício restaurado por Herodes, cumprindo assim, de modo espetacular, a profecia de Jesus. Não ficou pedra sobre pedra. O templo propriamente dito, restaurado por Herodes e onde Jesus e os Seus discípulos vinham orar, não foi encontrado. Depois da sua destruição pelos romanos no ano 70, os escombros ficaram ali até à conquista da região pelos muçulmanos, no século VII da nossa era. Então, toda a região foi nivelada, para ali ser construída a Mesquita da Rocha, monumento que comemora a visão que transportou Maomé ao céu.